Além de místico, há o caráter social e lúdico desses encontros religiosos: todos se revêem, divertem-se e atualizam comentários e notícias. São aí que também prosperam as más línguas.
De paletó os homens, feitos muitas vezes do simpático brim cáqui. Ou camisa de mangas compridas em quem não se dava a esses luxos. As mulheres, vestido longo, xale, blusa ou casacos para cobrir também os braços. Crianças, de qualquer jeito, mas roupa limpa e muita alegria.
Uma família se dirigia à igreja. Sebastião, muito sério; a filha, de rosto triste e vestido rosa enrugadinho que contrasta com sua pele lisa e morena; o filho de uns 9 anos, compenetrato em sua calça comprida; e Elisa, magra, alta, sem jóias e nem maquiagem, veste uma roupa justa, preta. Sua expressão é enigmática. O quase grave semblante é emoldurado por um quase sorriso. Todos olham-na com atenção enquanto segue de braços com o marido, elegante e afetuosa.
Na igreja, com seus óculos de grossas lentes esverdeadas, o padre Alberto cumpria solenemente os rituais. Após a comunhão, após os sofridos senta-levanta-ajoelha, vem um sermão desagradável, dirigido às mulheres que usam decotes ou mais graves motivos de reprovações. Daquelas lentes tanto se podiam ver refletidas as luzes da igreja, como as pragas dirigidas àquelas que, dizia, eram guiadas por Satanás. Para essas quase imperdoáveis pecadoras, reservava a fria descrição dos quentes horrores do inferno. Mas os longos e aborrecidos sermões são os que, no fim, deixam a sensação de alívio geral, de redenção, de alegria. Como prêmio, toda liberdade para voltar a desfrutar a vida, livre, leve e solta.
Na igreja, com seus óculos de grossas lentes esverdeadas, o padre Alberto cumpria solenemente os rituais. Após a comunhão, após os sofridos senta-levanta-ajoelha, vem um sermão desagradável, dirigido às mulheres que usam decotes ou mais graves motivos de reprovações. Daquelas lentes tanto se podiam ver refletidas as luzes da igreja, como as pragas dirigidas àquelas que, dizia, eram guiadas por Satanás. Para essas quase imperdoáveis pecadoras, reservava a fria descrição dos quentes horrores do inferno. Mas os longos e aborrecidos sermões são os que, no fim, deixam a sensação de alívio geral, de redenção, de alegria. Como prêmio, toda liberdade para voltar a desfrutar a vida, livre, leve e solta.
Os domingos tem ainda passeio na praça, sorvete, cinema, cachaça nos botequins, futebol no campo ou no rádio, ajantarado em casa com um cochilo depois. Sentar na calçada para pegar a fresca da noite e deitar cedo para recomeçar a rotina da segunda-feira.
Cedinho, as crianças arrumam-se para ir à escola e o pai despede-se para voltar à fazenda, onde permanecerá até o próximo fim de semana.
Então Elisa, a habilidosa costureira, a zelosa mãe, a doce esposa e distinta senhora pode, tranqüilamente retomar uma vez mais, às suas brincadeiras favoritas. Alta noite, movimentada madrugada, enchem-lhe a casa: namorados de todas as idades, atributos e cor. O favorito deles, adolescente ainda, deixa-se trair pelo seu cachorro de estimação que teima ao acompanhá-lo e a montar guarda à porta da casa.
Pouco a pouco aquele vai-e-vem noturno chega, das más linguas do povo, aos ouvidos de um zeloso irmão, numa cidade distante. Todos sabiam, menos o marido, é claro, dessas traições e injúrias. E Elisa recebe de surpresa a visita daquele, afinal de contas, imprudente cunhado. Ao Onofre, falta agora coragem. Será terrível abordar esse assunto. Será penoso contar tudo ao seu dileto irmão. Ser recebido por todos, com atenção e alegria, só tornavam as coisas mais difíceis. Era uma questão de honra, honra da família. Reuniu coragem e decidiu:
- Tãozinho, vamos ali, pro bar? A gente toma uma cerveja, conversa um pouco...
Sebastião acabou seguindo-o, inocente. Companhia inútil se considerava, ele que nem beber, bebia. E o Onofre toma muita cerveja. Fala, fala, fala... Sua coragem desapareceu. Não chegava para ele o momento certo de que tanto precisava. Sebastião, homem disciplinado e metódico, vendo que não tinha o menor propósito ficar ali a escutar um irmão bêbado com aquela conversa mole que só atrapalhava a sua hora de descansar, levantou-se decidido a voltar sozinho. Onofre segurou com carinho e proteção as grossas mãos de quem está acostumado a pegar enxada e a tantos outros afazeres rústicos de uma pequena fazenda. Constrangido, quase chorando de pena por sentir que iria magoar o irmão que amava e de quem se julgava protetor, reúne coragem, toma fôlego, como que para soltar uma bomba. Agora, no tom duro e grave que se usa para tratar de coisas graves, diz sem meias palavras, com um suspiro:
Pouco a pouco aquele vai-e-vem noturno chega, das más linguas do povo, aos ouvidos de um zeloso irmão, numa cidade distante. Todos sabiam, menos o marido, é claro, dessas traições e injúrias. E Elisa recebe de surpresa a visita daquele, afinal de contas, imprudente cunhado. Ao Onofre, falta agora coragem. Será terrível abordar esse assunto. Será penoso contar tudo ao seu dileto irmão. Ser recebido por todos, com atenção e alegria, só tornavam as coisas mais difíceis. Era uma questão de honra, honra da família. Reuniu coragem e decidiu:
- Tãozinho, vamos ali, pro bar? A gente toma uma cerveja, conversa um pouco...
Sebastião acabou seguindo-o, inocente. Companhia inútil se considerava, ele que nem beber, bebia. E o Onofre toma muita cerveja. Fala, fala, fala... Sua coragem desapareceu. Não chegava para ele o momento certo de que tanto precisava. Sebastião, homem disciplinado e metódico, vendo que não tinha o menor propósito ficar ali a escutar um irmão bêbado com aquela conversa mole que só atrapalhava a sua hora de descansar, levantou-se decidido a voltar sozinho. Onofre segurou com carinho e proteção as grossas mãos de quem está acostumado a pegar enxada e a tantos outros afazeres rústicos de uma pequena fazenda. Constrangido, quase chorando de pena por sentir que iria magoar o irmão que amava e de quem se julgava protetor, reúne coragem, toma fôlego, como que para soltar uma bomba. Agora, no tom duro e grave que se usa para tratar de coisas graves, diz sem meias palavras, com um suspiro:
- Sebastião... Ouvi dizer que a sua mulher está dando... dando feito galinha!?
Tião fechou a cara. Que sujeito atrevido, que palavras grosseiras, que coisa desagradável! A indignação seria o prenúncio de uma explosão de cólera, de dor e de desgosto. Mas não. Significou apenas um muxoxo desse imperturbável marido. Que cândido disse:
- Ah... dar até que ela dá, mas não é tanto assim não, ô Onofre!
- Ah... dar até que ela dá, mas não é tanto assim não, ô Onofre!
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